[Nota 3 da série NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS]
4 de julho de 2025
Como anda o emprego no Brasil? Em
meio a debates sobre juros, crescimento econômico e desigualdade social, o
mercado de trabalho tem mostrado sinais de melhora importantes. A Carta de
Conjuntura do IPEA ajuda a entender melhor esses avanços e seus limites. Nesta
Nota, destacamos os principais dados e refletimos sobre o que eles significam.
Conceitos básicos: o
que é o mercado de trabalho
A Carta de Conjuntura do IPEA de 26
de julho último abordou o desempenho do mercado de trabalho (emprego e
desemprego) e a Carta de 25 de julho havia apresentado o comportamento
dos rendimentos do trabalho. A síntese feita nesse número da Carta, com o
título “Desempenho recente do mercado de trabalho”, é muito útil para as nossas
reflexões: “O mercado de trabalho brasileiro segue demonstrando
trajetória bastante favorável, caracterizada por uma taxa de desocupação
em níveis historicamente baixos, refletindo, sobretudo, o bom desempenho da população
ocupada. Adicionalmente, os aumentos dos rendimentos reais e o recuo
do desalento e do desemprego de longo prazo ajudam a completar
este cenário de forte dinamismo.”
Quando falamos em “mercado de
trabalho”, tratamos da relação entre quem oferece sua força de trabalho
(trabalhadores) e quem demanda essa força (empresas e governo). Em uma economia
capitalista, nem sempre há equilíbrio: pode faltar emprego para todos, gerando
desemprego e situações como o desalento.
Como as decisões econômicas no modo
de produção capitalista buscam, sobretudo, atender ao consumo individual, cuja
produção gera o lucro, nem sempre há vagas suficientes para todos que querem
trabalhar. Por isso, surge o desemprego..
Se fossem também, as necessidades
coletivas, o foco das decisões macroeconômicas, como ocorre em sociedades com o
modo de produção socialista, o objetivo de pleno emprego reduziria ao
mínimo possível a desocupação e, consequentemente, as condições de vida
precárias típicas de ambiente de alto desemprego, se não houver pronto e
suficiente seguro-desemprego.
A Carta refere-se também ao desalento,
que ocorre quando não há dinamismo na oferta de oportunidades de emprego. No
caso do segundo trimestre de 2025 analisado, além do recuo do desalento,
o texto registra aumentos dos rendimentos reais, isto é, salários médios se
elevando acima da inflação.
Emprego formal e informal:
diferenças que importam
Mencionem-se os elementos que
definem a ocupação e a desocupação:
1. ocupação formal
compreende o trabalhador com carteira nos setores privado e público, os
militares e estatutários, o trabalhador doméstico com carteira, o empregador
com Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e por conta própria com CNPJ.
2. ocupação informal
compreende o trabalhador sem carteira nos setores privado e público, o
trabalhador doméstico sem carteira, o empregador sem CNPJ, o trabalhador
por conta própria sem CNPJ e o trabalhador familiar.
Esses aspectos da atividade
econômica – emprego ou desemprego da população -, sobretudo sua relação
com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), tratado na primeira
destas Notas, dizem respeito às condições fundamentais de vida.
Essas condições constituem o objetivo
maior das pessoas, seja nas suas iniciativas de atividades privadas,
seja na sua atuação, como cidadãos, no esforço político de levar o
Estado à oferta dos bens e serviços coletivos, seu papel definido na
Constituição Federal. Esta oferta é fundamental, sobretudo por causa da desigualdade
entre as várias camadas da população, desde os miseráveis até os super ricos.
Comportamento das variáveis do
mercado de trabalho nos doze meses até abril de 2025
No mês de abril, retirados os
efeitos das estações do ano (dessazonalização), a taxa de desocupação, 6,1%,
segundo o IPEA em sua Carta de Conjuntura, utilizando os dados do IBGE, a menor
taxa desde janeiro de 2012, quando começou a construção da série da taxa de
desocupação.
Aspecto significativo do crescimento
da ocupação é o crescimento (no mesmo período de doze meses) do
emprego formal, 3,6%, comparado ao do emprego informal, 1,5%.
Um outro dado importante destacado em
sua Carta pelo IPEA diz respeito à mais baixa taxa de participação do
mercado de trabalho brasileiro. Essa taxa é a relação percentual as pessoas
ocupadas ou procurando emprego e a população em idade de trabalhar.
Rendimentos:
ganhos reais para os trabalhadores
Uma conclusão a ser destacada na
análise feita pelo IPEA está contida no seguinte trecho da sua Carta de Conjuntura:
“Por fim, os dados mostram que,
como esperado, diante do bom dinamismo do mercado de trabalho, os rendimentos
médios reais vêm mantendo uma trajetória de alta há vários trimestres. Segundo
a PNAD Contínua, no trimestre móvel encerrado em abril, os rendimentos médios
reais habitualmente e efetivamente recebidos chegaram a R$ 3.426,00 e a R$
3.487,00, acelerando 3,2% e 3,4%, respectivamente, na comparação interanual.”
Uma conclusão que aponta para
o papel do Estado
Os dados mostram um mercado de
trabalho que vem se recuperando, com queda no desemprego e alta real nos
salários. Mas desafios permanecem: o crescimento do emprego informal ainda
preocupa, e a desigualdade social continua sendo um obstáculo à plena realização
do potencial econômico do país. O papel do Estado, como mediador e indutor do
desenvolvimento social, segue central nesse processo.
Quem quiser se aprofundar veja a
Carta completa em: https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wp-content/uploads/2025/06/250626_cc_67_nota_22_indicadores_mensais_mercado_trabalho.pdf
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