10/11/2025

Crescimento Econômico e Investimento Público nas últimas duas décadas

Nota nº 7 da série “Estrutura e Conjuntura Econômicas no Brasil”

Esta Nota foca a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) e a contribuição do Investimento Público Bruto (IPB) para essa evolução. O Investimento Público Bruto nesta Nota compreende os efetuados pelas três esferas de governo (denominadas Governo Central, Governos Estaduais e Governos Municipais, parcelas de um total chamado Governo Geral).

·        Fontes e Metodologia

As informações e tratamento da inflação, para trabalharmos com valores constantes a preços do quarto trimestre de 2024 (4T24), são do Observatório de Política Fiscal, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que obtém os dados do boletim “Estatísticas Fiscais do Governo Geral”, do Tesouro Nacional. Outras instituições que produzem dados macroeconômicos para a análise da estrutura e da conjuntura econômica são o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Planejamento e Pesquisa Aplicada (IPEA) e Banco Central do Brasil (BCB), além de órgãos internacionais como International Monetary Fund (IMF) e United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD).

O Investimento Bruto Público (IBP) é tomado como parte dos Gastos Primários Totais (GPT), que englobam o Consumo e o Investimento Público. Estes gastos representam a contribuição direta do Estado à parcela da demanda agregada (a “demanda efetiva” de Keynes). Assim, mesmo que sejam temas tratados com alta relevância no debate sobre a “questão fiscal” – ou as relações entre receitas e despesas públicas, envolvendo como consequência, dívida pública e, temas ainda mais polêmicos como sejam os limites para os gastos públicos –, o interesse maior aqui é examinar a apropriação, pelo Estado, de parte da renda das famílias, que é repartida sobretudo pelos gastos de consumo, parcela fundamental da “demanda efetiva” keynesiana, e também pela poupança destinada à formação de patrimônio das famílias (habitação, bens duráveis de consumo e reserva para quedas de renda), além de servir para complementar “transferências” dos sistemas públicos de previdência e seguro desemprego, do Estado para as famílias.

A abordagem do Investimento Bruto Público visa examinar a contribuição desse segmento da sociedade, o Setor Público, para o crescimento do Produto Interno Bruto e o desenvolvimento da sociedade quanto ao bem-estar. Se agregássemos os resultados da integração com outros países, teríamos o Produto Nacional Bruto.

·         Períodos Econômicos e Políticos

Os dados foram reunidos e as tabelas 1.1 a 1.3 procuram apresentar resultados que permitam observar os ciclos econômicos recentes, com base na variação anual do PIB, a preços constantes do quarto trimestre de 2024, bem como a participação, na realização do Investimento Bruto Público (IBP) das esferas de governo no Brasil: a União (dos Estados), os Estados e os Municípios, com as respectivas entidades descentralizadas de cada esfera (órgãos dos Poderes Executivo, das três esferas, dos Poderes Legislativos das esferas Federal e Estadual e as entidades com autonomia administrativa, da chamada “administração indireta”: Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e outros tipos menos significativos de entidades).

Os dados obtidos permitiram considerar três períodos distintos, caracterizados pelo comportamento das variáveis macroeconômicas mencionadas acima e pelas respectivas situações políticas vividas pela República Federativa do Brasil (Constituição promulgada em 05/10/1988):

 

a) o primeiro período - 2006 a 2014 - compreendeu o último ano do primeiro governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (exercido de 2003 a 2006); o segundo governo deste Presidente (2007 a 2010); e o primeiro governo da Presidenta Dilma Roussef (2011 a 2014). Esses três governos foram os primeiros a serem liderados pelo Partido dos Trabalhadores, criado em 1980.

O ano de 2015, primeiro ano do segundo governo da Presidente Dilma, foi considerado um ano de transição, marcado por enorme pressão com vistas à tomada do poder conquistado na eleição de 2014 e consequente encerramento do seu governo, o que veio acontecer em 2016.

 

b) O segundo período (2016 a 2022) foi marcado pela destituição, em 2016, do governo eleito em 2014, sem apresentação de qualquer crime que justificasse essa violência ao Estado de Direito. Além disso, o período caracterizou-se por ataques às instituições, sobretudo o Poder Judiciário e sua entidade máxima, o Supremo Tribunal Federal (STF). Do ponto de vista da economia, a ausência de condições de implementação de políticas de enfrentamento à crise, evidenciada a partir de 2011, com a redução do ritmo e até do valor absoluto do Produto Interno Bruto - redução da variação anual de 7,5% em 2010 para 0,5% em 2014 e redução de 3,5% do valor do PIB em 2015. Essa crise econômica pode ser vista como a chegada ao Brasil dos efeitos da chamada “crise do subprime hipotecário”, no financiamento do mercado imobiliário americano nos anos de 2007-2008. Em 2009, o PIB brasileiro chegou a reduzir-se em 0,1% em relação ao ano de 2008, o do auge dessa crise americana, que afetou toda a economia mundial.

Paralelamente a essa crise econômica de âmbito mundial, o país também viveu a pandemia do Corona Vírus (responsável pela doença COVID-19), que, em razão da recusa, pelas autoridades, sobretudo federais, à adoção de medidas sanitárias recomendadas, levou a uma das piores conduções da pandemia, no mundo, com centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

A observação das taxas anuais de crescimento do PIB mostra que: no primeiro período (2006 a 2014), ela alcançou 3,6% e, no segundo período (2016 a 2022), a taxa de crescimento média anual do PIB reduziu-se para 0,8%.

 

c) O terceiro período, inicia-se em 2023, após a vitória de Lula nas eleições de 2022, permitindo, a partir de 2023, a reconstrução das instituições do país, pela união de forças de amplo leque abrangendo a esquerda, a centro-esquerda e vários segmentos da direita. Nesses dois anos de reconstrução do país (2023 e 2024), o PIB apresentou crescimento anual médio de 3,3%.

·         Evolução do PIB e do Investimento Bruto Público

Observemos as relações entre o Investimento Bruto Público (IBP), examinado como parte dos Gastos Primários Totais (GPT) das três esferas de Governo, e o comportamento do PIB

As tabelas 1.1 a 1.3 a seguir permitem observações importantes sobre relações provocadoras de turbulências na economia no período sob análise. A partir da ameaça de derrota, na eleição para Presidente em 2014, da oposição à coligação que estava no Poder desde 2003, começaram a se fortalecer tentativas de destruição das instituições, com flagrantes desrespeitos à Constituição da República, sobretudo pelo recurso a golpe de Estado, caracterizado como “parlamentar, empresarial e midiático”.

Destaque-se o fato de as informações disponíveis para os Municípios, quanto ao Investimento Bruto Público (IBP) não contemplarem os anos de 2006 a 2009. Ainda assim, é possível fazer observações sobre o impacto do IBP na evolução do PIB. Não se pretende aqui aprofundar essas relações, a ponto de se poder considerar as dinâmicas e efeitos dos demais componentes da “demanda agregada” (o Consumo Privado e o Saldo das Relações com o Exterior, ou seja, as Exportações reduzidas pelo valor das Importações).

A evolução do Produto Interno Bruto pode ser sintetizada do seguinte modo nos dois primeiros períodos mencionados e no ano atípico de 2015:

a)      2006-2014: as taxas anuais de variação apresentaram uma média anual de 3,6%, que variou do mínimo de -0,1% em 2009 (ano do auge da crise econômica de contornos mundiais) e o máximo de crescimento de 7,5% no ano de 2010.

O ano de 2015, como afirmado, foi considerado, pelas razões apontadas acima, como um ano de transição, com uma redução do PIB de 3,5%;

b)      2016-2022: foi um período de 7 anos com uma média anual de apenas 0,8% de variação anual, apresentando duas reduções de 3,3%, em 2016 e em 2020, acréscimos entre 1,2% e 1,8% nos anos de 2017 a 2019 e sinal de recuperação em 2021 e 2022 (4,8% e 3,0%).

 

Como observado anteriormente, o Investimento Bruto Público nesta Nota é apresentado para as três esferas de governo, podendo ser destacado, para o conjunto do período 2006 a 2024:


Quanto ao Governo Central (tabela 1.1):

a)      o Investimento Bruto Público alcançou, em todo o período, em valores reais (4T24), 904,9 bilhões de Reais, ou seja, uma média de 2,7% dos Gastos Primários Totais (GPT), de R$ 33,2 trilhões;

b)      ressaltam as taxas anuais médias decrescentes da relação IBP/GPT ao longo de todo o período 2006-2024, com tendência a recuperação após o período da desastrosa combinação do Fascismo com a COVID-19. Observe-se que as taxas anuais são crescentes entre 2022 e 2024;

c)      a proporção de IBP no GPT, ambos do Governo Central, relacionados ao Governo Geral evidenciam a redução significativa dessa proporção tomando-se a média do primeiro período (27,1%), dos governos de coalizão de esquerda / centro-esquerda / centro, com o segundo período, com os governos de direita / extrema-direita (22,5%).

Quanto aos Governos Estaduais (tabela 1.2), destaquem-se:

a)      o Investimento Bruto Público alcançou, em todo o período, a preços constantes do quarto trimestre de 2024, 1,4 trilhões de Reais, ou seja, uma média de 7,2% dos Gastos Primários Totais (GPT), de R$ 19,6 trilhões, o que revela capacidade maior de investimentos dos Governos Estaduais;

b)      no que se refere à proporção média do IBP no GPT, observou-se redução menor entre o primeiro e segundo período (de 8,8% para 5,4%) e aumento no terceiro período (de 5,4% para 7,2%);

c)      embora em menor ritmo que as participações do Governo Central, esses indicadores de IBP reduziram de 38,4% para 36,3% e para 35,0%, respectivamente, nos três períodos da análise.

Os Governos Municipais, cujos dados estão indisponíveis para os anos 2006-2009, revelam IBP de R$ 1,2 trilhões de Reais e R$ 14,5 trilhões devendo ser considerado o período menor que os períodos dos Governos Central e Estaduais. Destaquem-se as médias mais elevadas que no caso dos Governos Estaduais, na relação IBP/GPT e, ao contrário, maior participação dos Municípios no Governo Geral.

·        Considerações finais

Os resultados reafirmam o papel estrutural do investimento público no crescimento econômico brasileiro.
Períodos de retração do Investimento Bruto Público — especialmente 2015–2021 — correspondem à estagnação e à perda de capacidade produtiva. Já os momentos de expansão do investimento coincidem com aceleração do PIB e melhora do bem-estar social.

O investimento público, distribuído entre União, estados e municípios, é o motor silencioso da capacidade produtiva e social do país. Sua recuperação recente demonstra que não há crescimento sustentável sem investimento público coordenado e estável. Sem investimento público, não há ponte entre a renda presente e o desenvolvimento futuro.

 

 


 

Tabela 1.1 - Brasil – Gastos Primários Totais (GPT) e Investimento Público (IP) - Governo Central - R$ bilhões constantes do 4Trim24 (deflator do PIB)

Ano

Var. anual

Médias das variações % anuais

Governo Central Orçamentário

Média% IB/GPT

% IB Gov. Central/Gov. Geral

Média da part. % IB Gov. Central/Gov. Geral

 

 

% PIB

 

Investimento público (IB)

Gastos Primários Totais (GPT)

%IB / GPT

 

 

 

 

2006

4,0

3,6

57,1

1.336,8

4,3

3,9

 

 

 

2007

6,1

46,2

1.358,1

3,4

 

 

 

2008

5,1

45,9

1.386,9

3,3

 

 

 

2009

-0,1

57,0

1.494,9

3,8

 

 

 

2010

7,5

79,7

1.569,0

5,1

28,0

 

 

2011

4,0

62,5

1.605,8

3,9

26,6

 

 

2012

1,9

57,3

1.649,7

3,5

24,2

27,1

 

2013

3,0

69,3

1.754,2

4,0

28,4

 

 

2014

0,5

77,2

1.823,4

4,2

28,5

 

 

2015

-3,5

46,0

1.774,4

2,6

25,5

 

2016

-3,3

0,8

39,3

1.819,0

2,2

1,8

24,9

 

 

2017

1,3

38,0

1.864,7

2,0

29,2

 

 

2018

1,8

39,3

1.873,1

2,1

27,1

 

 

2019

1,2

36,0

1.931,9

1,9

26,6

22,5

 

2020

-3,3

32,4

2.289,5

1,4

20,7

 

 

2021

4,8

25,2

1.792,8

1,4

17,2

 

 

2022

3,0

27,0

1.830,0

1,5

12,0

 

 

2023

3,2

3,3

32,6

2.036,1

1,6

1,7

14,0

 

 

2024

3,4

36,7

2.032,6

1,8

13,8

13,9

 

904,9

33.222,9

2,7

2,8

25,6

 

Fontes: ver o parágrafo primeiro desta nota.

 

 


 

Tabela 1.2 - Brasil - Gastos Primários Totais (GPT) e Investimento Público (IP) – Governos Estaduais - R$ bilhões constantes do 4Trim24 (deflator do PIB)

Ano

Var. anual

Médias das variações % anuais

Governos Estaduais

Média% IB / GPT

% IB Gov. Estad./Gov. Geral

Média da part. % IB Gov. Estad./Gov. Geral

 

 

% PIB

 

Investimento público (IB)

Gastos Primários Totais

%IB / GPT

 

 

 

 

2006

4,0

3,6

61,9

821,8

7,5

8,8

 

 

 

2007

6,1

51,9

820,8

6,3

 

 

 

2008

5,1

75,5

900,6

8,4

 

 

 

2009

-0,1

89,7

924,9

9,7

 

 

 

2010

7,5

113,9

984,6

11,6

40,0

 

 

2011

4,0

82,7

977,1

8,5

35,2

 

 

2012

1,9

77,8

1.015,4

7,7

32,8

38,4

 

2013

3,0

104,2

1.091,2

9,5

42,7

 

 

2014

0,5

111,5

1.114,9

10,0

41,2

 

 

2015

-3,5

62,8

1.066,5

5,9

34,8

 

2016

-3,3

 

50,6

1.038,9

4,9

 

32,0

 

 

2017

1,3

 

53,0

1.059,5

5,0

 

40,7

 

 

2018

1,8

 

55,2

1.068,5

5,2

 

38,0

 

 

2019

1,2

 

39,0

1.067,1

3,7

 

28,8

36,3

 

2020

-3,3

 

40,6

1.039,4

3,9

 

26,0

 

 

2021

4,8

 

61,5

1.025,8

6,0

 

41,9

 

 

2022

3,0

0,8

104,7

1.163,5

9,0

5,4

46,4

 

 

2023

3,2

 

84,8

1.185,2

7,2

 

36,4

 

 

2024

3,4

3,3

89,3

1.246,9

7,2

7,2

33,5

35,0

 

1.410,6

19.612,6

7,2

 

39,9

 

 

Fontes: ver o parágrafo primeiro desta nota.

 

 


 

Tabela 1.3 - Brasil - Gastos Primários Totais (GPT) e Investimento Público (IB) – Governos Municipais - R$ bilhões constantes do 4Trim24 (deflator do PIB)

Ano

Var. anual

Médias das variações % anuais

Governos Municipais

 

 

% IB Gov. Munic./Governo Geral

Média da part. % IB Gov. Munic./Governo Geral

 

 

% PIB

Investimento público (IB)

Gastos Primários Totais (GPT)

% IB / GPT

Média% IB / GPT

 

 

 

2006

 

2007

 

2008

 

2009

 

2010

7,5

 

90,9

802,2

11,3

 

32,0

 

 

2011

4,0

 

89,9

839,2

10,7

 

38,2

 

 

2012

1,9

 

101,7

892,3

11,4

 

43,0

 

 

2013

3,0

 

70,4

868,3

8,1

 

28,9

 

 

2014

0,5

3,4

82,3

925,1

8,9

10,1

30,4

34,5

 

2015

-3,5

71,4

913,5

7,8

39,6

 

2016

-3,3

 

68,0

909,7

7,5

 

43,1

 

 

2017

1,3

 

39,2

877,7

4,5

 

30,1

 

 

2018

1,8

 

50,7

925,4

5,5

 

34,9

 

 

2019

1,2

 

60,6

976,2

6,2

 

44,7

41,2

 

2020

-3,3

 

83,3

999,2

8,3

 

53,3

 

 

2021

4,8

 

59,9

948,3

6,3

 

40,8

 

 

2022

3,0

0,8

94,1

1.097,7

8,6

6,7

41,7

 

 

2023

3,2

 

115,4

1.206,7

9,6

 

49,6

 

 

2024

3,4

3,3

140,6

1.333,2

10,5

10,1

52,8

51,2

 

1.218,4

14.514,7

8,4

 

34,5

 

 

Fontes: ver o parágrafo primeiro desta nota.

Esta postagem contou, em sua elaboração, com relevantes contribuições do ChatGPT, sobretudo para localizar as fontes e os dados referentes às variáveis analisadas.


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