11/08/2025

 

[Nota 5 da série NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS]

O desempenho dos investimentos

11/08/2025


Investimento: conceito e implicações

Esta nota trata de um tema central para o futuro do país: o investimento. Ele representa a capacidade da sociedade de ampliar seu bem-estar e sua produtividade nos anos que virão.

Não é por acaso que, em seus discursos, o Presidente da República — em seu terceiro mandato — costuma se irritar com o uso da palavra “gasto” para despesas públicas com Educação. A crítica não é apenas semântica: ela envolve como vemos e classificamos as ações do Estado.

Dentro dessa discussão, convém distinguir as despesas de custeio, de consumo, de capital e financeiras. Essas categorias afetam não só a contabilidade, mas também o planejamento e as prioridades das políticas públicas.


O fator tempo

Ao falar de investimento, é fundamental considerar o prazo dos benefícios. Não se trata apenas da duração da execução de um programa ou projeto, mas da permanência dos resultados após sua conclusão.

A Educação é exemplo claro: prédios e equipamentos escolares permanecem por anos, atendendo aquela quantidade específica de alunos; já o conhecimento transmitido pelos professores se incorpora à vida das pessoas e influencia toda a sociedade. Mesmo que, nas contas do PIB, a folha de pagamento dos professores seja classificada como “consumo público” (pela ótica de despesa corrente), o impacto é duradouro, como ocorre com a formação cidadã e a qualificação profissional.


Consumo e investimento no PIB

De forma resumida:

  1. O Produto Interno Bruto (PIB) é composto por três grandes agregados: consumo, investimento e saldo das transações com o exterior. (Ver a Nota nº 1 desta série, neste blog).

  2. O consumo inclui o uso final ou intermediário de bens e serviços por famílias e governos.

    • Exemplo familiar: compra de medicamentos (quando não fornecidos pelo SUS). Consumo final.

    • Exemplo governamental: pagamento de energia elétrica de escolas (intermediário, porque o final será o do serviço de Educação).

  3. O investimento abrange despesas que ampliam a capacidade produtiva. Pode ser:

    • Privado — como a compra de máquinas para fabricar carteiras escolares;

    • Público — como a construção de escolas ou a compra dessas carteiras.

  4. Essa distinção é relevante porque o investimento é o motor que sustenta crescimento econômico e melhora estrutural no longo prazo, proporcionando o aumento do bem-estar da sociedade. Como se sabe, no entanto, esse bem-estar exigirá, por parte do Estado, a implementação de políticas públicas de modo a não persistirem e, menos ainda, aumentarem as desigualdades entre segmentos da sociedade.


Desempenho recente segundo IPEA e IBGE

Em 7 de agosto de 2025, o IPEA divulgou, em sua Carta de Conjuntura, dados sobre investimentos até maio, com base no Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Este indicador soma investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil e outros ativos fixos (como estradas e pontes).

O resultado:

  • Em maio, a FBCF recuou 0,4% em relação a abril, já descontados efeitos sazonais.

  • A queda foi puxada pela redução nas importações de máquinas e equipamentos.

  • As demais componentes (máquinas nacionais, construção civil e outros ativos) não tiveram queda no mês.


Panorama histórico

O gráfico divulgado pelo IPEA mostra a evolução trimestral da FBCF (base 100 = média de 1995) entre maio de 2007 e maio de 2025:

  • O índice partiu de cerca de 130 e chegou ao pico de 200 no 1º semestre de 2013.

  • Caiu para aproximadamente 110 em meados de 2020, auge da pandemia.

  • Desde 2024, há retomada, ultrapassando 190 no início de 2025.


Variações e tendências

  • Mensal: quedas em março (-9,8%) e maio (-0,4%), levando a retração de -3,0% no trimestre encerrado em maio contra o trimestre anterior.

  • Anual: alta de 3,3% no trimestre encerrado em maio de 2025 frente ao mesmo período de 2024, com crescimento em todos os componentes da FBCF.

  • Acumulado em 12 meses: alta real de 6,9% no fim de 2024, com destaque para o setor de máquinas e equipamentos, que voltou a crescer após três anos de retração.


Conclusões

  1. O nível atual de investimento nacional ainda é modesto diante das necessidades acumuladas, mas há sinais positivos de retomada. Se essa trajetória for mantida, pode-se iniciar um ciclo de expansão mais consistente.

  2. O debate público, porém, muitas vezes é marcado por análises parciais ou excessivamente pessimistas — aquilo que alguns críticos chamam de “terrorismo econômico”. Esse tipo de abordagem tende a desconsiderar e até mesmo dificultar a formulação e execução de políticas voltadas para reduzir as profundas desigualdades de renda e riqueza do país.

Questão em aberto: conseguiremos sustentar o ritmo de recuperação dos investimentos ou voltaremos ao padrão de estagnação que marcou a última década?

Observação: foram consultadas os seguintes números da Carta de Conjuntura do IPEA: 

a) Nº 67 - https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/category/indicadores-ipea/

b) Nº 68 - https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wp-content/uploads/2025/08/250807_cc_68_nota_8_fbcf.pdf

Foi obtida ajuda do ChatGPT na adaptação da forma dos textos para efeito de publicação neste blog e redes sociais.

26/07/2025

[Nota 4 da série NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS] 

Reforma da tributação da renda e do patrimônio

24/07/2025

O tema da tributação da renda e do patrimônio é extremamente amplo. Quando debatido, costuma-se enfatizar aspectos conjunturais mais visíveis — especialmente quando em pauta durante campanhas eleitorais. Um exemplo atual é a discussão sobre maior justiça fiscal na tributação da renda da pessoa física.

Essa alteração pode ser resumida assim:

  1. Busca-se reduzir a injustiça observada nas alíquotas médias efetivamente incidentes sobre diferentes faixas de renda. As faixas mais baixas e médias chegam a pagar até 20% da renda, enquanto rendas muito altas — acima de R$ 1 milhão por ano — contribuem com meros 1% a 2%.
  2. As alterações propostas pelo Poder Executivo, hoje em discussão no Congresso Nacional, podem ser resumidas do seguinte modo:
    • Isenção para quem ganha até R$ 5.000,00 mensais;
    • Redução progressiva para rendas entre R$ 5.000 e R$ 7.000:
      • desconto de 75% entre R$ 5.000 e R$ 5.500;
      • desconto de 50% entre R$ 5.500 e R$ 6.000;
      • desconto de 25% entre R$ 6.000 e R$ 7.000;
    • Pagamento mínimo de 10% da renda para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano.

    Segundo a Agência Câmara de Notícias, “A ideia da proposta é adotar alíquotas mínimas a partir de R$ 600 mil por ano, chegando ao mínimo de 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano.”

  3. A mudança para as altíssimas rendas visa compensar a redução na arrecadação provocada pela ampliação das faixas de isenção e de alíquotas mais baixas. O Projeto de Lei institui, para isso, o Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas Mínimo (IRPFM).

Um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE-USP) aponta que, caso a proposta do Projeto de Lei nº 1.087/2025 seja aprovada, ela será fiscalmente neutra: os valores pagos por 141 mil brasileiros com rendas superiores a R$ 600 mil por ano compensarão os R$ 25,8 bilhões de redução de receita provenientes da nova faixa de isenção — que beneficiará cerca de 10 milhões de pessoas.

Antes da conjuntura, um panorama estrutural

Embora o debate atual tenha sido impulsionado pelas eleições mais recentes para o Executivo Federal e o Congresso Nacional, é importante caracterizar previamente o conjunto das possibilidades de tributação. Ganhou destaque, desde o período pós-eleitoral, a chamada reforma da tributação do consumo, que se encontra em fase final de regulamentação. Ela substitui tributos das três esferas de governo (ICMS, IPI, ISS, COFINS e PIS) por:

  • Um Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), com competência compartilhada entre Estados e Municípios;
  • Um Imposto Seletivo (IS), de competência exclusiva da União, substituindo o atual IPI.

A implementação da reforma do consumo está prevista para ocorrer gradualmente, entre 2026 (fase de testes, sem arrecadação efetiva) e 2032.

Renda e patrimônio: categorias fundamentais

Há grande diversidade entre os tipos de renda, que podem ser classificados da seguinte maneira:

  1. Renda decorrente do trabalho individual, recebida pela maioria da população: salários mensais, proporcionais à escolaridade, qualificação profissional e experiência acumulada.
  2. Renda gerada pela propriedade de terra ou de imóveis, excetuados:
    • o imóvel de residência de uso direto pelo proprietário;
    • áreas de terra cuja produção garanta ao menos uma renda digna ao pequeno produtor.
  3. Renda proveniente do uso de veículos automotores ou movidos por tração humana, quando utilizados como instrumento de trabalho (ex.: motocicletas, bicicletas, automóveis).

Quanto ao patrimônio, além dos bens citados acima como origem de renda, destacam-se:

  1. Imóveis (rurais ou urbanos) utilizados na produção de bens e serviços, com uso de força de trabalho (própria ou contratada);
  2. Títulos de propriedade de empresas, em sociedades limitadas ou anônimas — estas com capital representado por ações negociadas no mercado;
  3. Ativos financeiros: moeda, depósitos bancários, títulos, cotas de fundos, entre outros — todos compondo o patrimônio pessoal ou empresarial.

O sistema tributário e os impostos sobre renda e patrimônio

A Constituição Federal, leis complementares e legislações estaduais e municipais definem as competências tributárias e a estrutura do Sistema Tributário Nacional. A sua complexidade tem sido um dos principais desafios na construção de uma reforma eficaz e justa, como se tornou evidente na longa tramitação, ainda em curso, da reforma da tributação do consumo.

Nos termos da Constituição, temos:

União – Art. 153

São de competência federal, entre outros, os seguintes impostos sobre renda e patrimônio:

  • Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR);
  • Imposto sobre Operações Financeiras (IOF);
  • Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);
  • Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF – ainda não regulamentado, apesar de criado pela Constituição de 1988).

Estados e Distrito Federal – Art. 155

  • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD);
  • Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

Municípios – Art. 156

  • Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU);
  • Imposto sobre Transmissão Inter Vivos (ITBI).

Quantidade de impostos ≠ quantidade de arrecadação

Apesar da existência de múltiplos tributos sobre renda e patrimônio, a participação dessas bases na arrecadação total é reduzida em comparação aos tributos sobre consumo e faturamento.

Para ilustrar essa realidade, apresenta-se abaixo uma tabela com dados recentes, obtidos em levantamento solicitado ao sistema ChatGPT, da OpenAI, com base em fontes como Receita Federal, Tesouro Nacional e estudos do MADE-USP:

Ente Federativo Arrecadação total (R$ bilhões) Impostos sobre a Renda (R$ bilhões) Impostos sobre o Patrimônio Outras bases (consumo, comércio exterior etc.)
União (2024) 2.652 1.068 Próximo de zero 1.584
Estados e DF (2022) 851,0 Participação modesta (IPVA, ITCMD) Predominante: ICMS (consumo)
Municípios (2022) 223,8 Relevante (IPTU, ITBI) ISS (consumo de serviços)
Totais 3.726,8

Considerações finais

Os dados demonstram que, embora existam diversos tributos com base na renda e no patrimônio, sua arrecadação efetiva é desproporcionalmente pequena. Isso contribui para a regressividade do sistema tributário brasileiro e reforça a urgência de uma reforma ampla e estruturada da tributação direta.

As mudanças atualmente em discussão — incluindo o IRPF Mínimo e o avanço sobre lucros e dividendos — são passos iniciais fundamentais para maior justiça fiscal. No entanto, só a combinação entre uma tributação mais progressiva da renda, uma revisão da carga sobre o consumo e o enfrentamento da desigualdade patrimonial poderá equilibrar o sistema de forma sustentável.

É oportuno aproveitar o ensejo para solicitar ao leitor o apoio na forma de assinatura de um abaixo-assinado dirigido ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no sentido de promover estudos e discussões visando à reforma do sistema de Impostos sobre a Renda e o Patrimônio, das três esferas da Federação. Eis o link para o abaixo-assinado: https://chng.it/Mf8sXyFYDN

10/07/2025

Brasil em um Momento Decisivo: Liderança Global e Defesa da Democracia Interna

Brasil sob Pressão: Liderança Internacional e Desafios à Democracia Interna

Julho de 2025 tem sido um mês decisivo para o Brasil no cenário global e nacional.

No plano internacional, o país reafirma seu protagonismo em iniciativas que buscam construir uma ordem mundial mais equilibrada. No plano interno, enfrenta desafios institucionais importantes e, de forma grave, ingerências externas em sua vida política.

Brasil na Geopolítica: a Cúpula do BRICS e a busca por autonomia

A realização da Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro colocou o Brasil no centro das atenções mundiais. O evento fortaleceu a articulação entre economias emergentes em torno de:

  • um comércio menos dependente do dólar, privilegiando moedas locais;
  • autonomia tecnológica e energética, com investimentos conjuntos;
  • e propostas de reforma das instituições multilaterais, como a ONU e o FMI, buscando mais equilíbrio nas relações globais.

O governo brasileiro, ao sediar a cúpula, manteve uma postura de equilíbrio: reforçou laços com China, Índia, Rússia, África do Sul e os novos integrantes do BRICS, mas defendeu também o diálogo aberto com União Europeia e Estados Unidos. A mensagem central foi clara: o Brasil quer um mundo multipolar e cooperativo, sem hegemonismos.

Tensões entre os Poderes no Brasil: conflitos e judicialização

Internamente, o cenário político tem sido marcado por disputas entre o Poder Executivo e parte do Congresso Nacional, que tenta barrar medidas do governo em áreas sensíveis:

  • tributação sobre grandes fortunas,
  • proteção ambiental,
  • e regulamentação da atuação das redes sociais.

Diante de tentativas parlamentares de suspender atos do Executivo — instrumentos legítimos, mas politicamente usados de forma obstrutiva — o governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, temas cruciais têm sido resolvidos pela via judicial, reacendendo debates sobre a chamada “judicialização da política”.

O pano de fundo é a resistência de setores bolsonaristas, que, mesmo após as eleições e a posse do novo governo, mantêm forte influência no Congresso e nas redes sociais.

Agressão à soberania brasileira: a carta de Trump

O episódio mais grave desta semana foi a carta enviada por Donald Trump ao presidente Lula em 8 de julho de 2025. No texto, Trump:

  • ataca o sistema de Justiça brasileiro, alegando que Bolsonaro e seus aliados estão sendo perseguidos injustamente;
  • desqualifica o sistema eleitoral do Brasil, repetindo acusações falsas já rejeitadas por auditorias e observadores internacionais;
  • e acusa o Judiciário de censurar a liberdade de expressão, ao responsabilizar pessoas e redes por crimes contra a democracia.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), as tentativas de golpe no Brasil foram articuladas ainda em 2022, durante as eleições, e se estenderam por 2023 e 2024, com reuniões clandestinas, minutas de decretos ilegais e ações para desestabilizar o regime democrático.

A carta de Trump configura uma grave ingerência nos assuntos internos do Brasil, violando princípios elementares do direito internacional e da convivência civilizada entre Estados.

O governo brasileiro respondeu de forma serena e firme, reafirmando o respeito à independência dos Poderes e a solidez das instituições democráticas do país.

O que está em jogo

Vivemos um momento em que o Brasil:

  • busca autonomia e liderança no cenário global, sem submissões a potências tradicionais;
  • enfrenta, dentro de casa, a difícil tarefa de consolidar políticas públicas sob um Congresso dividido e um ambiente social polarizado;
  • e sofre a ação coordenada de redes autoritárias internacionais, que tentam interferir no processo político nacional.

O desafio não é pequeno. Mas a resposta deve ser clara: soberania nacional e democracia não estão em negociação.


[Observação: a publicação deste post contou com a colaboração do ChatGPT, na indicação de formas mais acessíveis de leitura]

04/07/2025

MERCADO DE TRABALHO EM 2025: emprego formal cresce e renda sobe acima da inflação

 

[Nota 3 da série NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS]

4 de julho de 2025

 

Como anda o emprego no Brasil? Em meio a debates sobre juros, crescimento econômico e desigualdade social, o mercado de trabalho tem mostrado sinais de melhora importantes. A Carta de Conjuntura do IPEA ajuda a entender melhor esses avanços e seus limites. Nesta Nota, destacamos os principais dados e refletimos sobre o que eles significam.

 

Conceitos básicos: o que é o mercado de trabalho

 

A Carta de Conjuntura do IPEA de 26 de julho último abordou o desempenho do mercado de trabalho (emprego e desemprego) e a Carta de 25 de julho havia apresentado o comportamento dos rendimentos do trabalho. A síntese feita nesse número da Carta, com o título “Desempenho recente do mercado de trabalho”, é muito útil para as nossas reflexões: “O mercado de trabalho brasileiro segue demonstrando trajetória bastante favorável, caracterizada por uma taxa de desocupação em níveis historicamente baixos, refletindo, sobretudo, o bom desempenho da população ocupada. Adicionalmente, os aumentos dos rendimentos reais e o recuo do desalento e do desemprego de longo prazo ajudam a completar este cenário de forte dinamismo.”

Quando falamos em “mercado de trabalho”, tratamos da relação entre quem oferece sua força de trabalho (trabalhadores) e quem demanda essa força (empresas e governo). Em uma economia capitalista, nem sempre há equilíbrio: pode faltar emprego para todos, gerando desemprego e situações como o desalento.

Como as decisões econômicas no modo de produção capitalista buscam, sobretudo, atender ao consumo individual, cuja produção gera o lucro, nem sempre há vagas suficientes para todos que querem trabalhar. Por isso, surge o desemprego..

Se fossem também, as necessidades coletivas, o foco das decisões macroeconômicas, como ocorre em sociedades com o modo de produção socialista, o objetivo de pleno emprego reduziria ao mínimo possível a desocupação e, consequentemente, as condições de vida precárias típicas de ambiente de alto desemprego, se não houver pronto e suficiente seguro-desemprego.

A Carta refere-se também ao desalento, que ocorre quando não há dinamismo na oferta de oportunidades de emprego. No caso do segundo trimestre de 2025 analisado, além do recuo do desalento, o texto registra aumentos dos rendimentos reais, isto é, salários médios se elevando acima da inflação.


Emprego formal e informal: diferenças que importam

 

Mencionem-se os elementos que definem a ocupação e a desocupação:

1. ocupação formal compreende o trabalhador com carteira nos setores privado e público, os militares e estatutários, o trabalhador doméstico com carteira, o empregador com Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e por conta própria com CNPJ.

2. ocupação informal compreende o trabalhador sem carteira nos setores privado e público, o trabalhador doméstico sem carteira, o empregador sem CNPJ, o trabalhador por conta própria sem CNPJ e o trabalhador familiar.

Esses aspectos da atividade econômica – emprego ou desemprego da população -, sobretudo sua relação com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), tratado na primeira destas Notas, dizem respeito às condições fundamentais de vida.

Essas condições constituem o objetivo maior das pessoas, seja nas suas iniciativas de atividades privadas, seja na sua atuação, como cidadãos, no esforço político de levar o Estado à oferta dos bens e serviços coletivos, seu papel definido na Constituição Federal. Esta oferta é fundamental, sobretudo por causa da desigualdade entre as várias camadas da população, desde os miseráveis até os super ricos.

 

Comportamento das variáveis do mercado de trabalho nos doze meses até abril de 2025

 

No mês de abril, retirados os efeitos das estações do ano (dessazonalização), a taxa de desocupação, 6,1%, segundo o IPEA em sua Carta de Conjuntura, utilizando os dados do IBGE, a menor taxa desde janeiro de 2012, quando começou a construção da série da taxa de desocupação.

Aspecto significativo do crescimento da ocupação é o crescimento (no mesmo período de doze meses) do emprego formal, 3,6%, comparado ao do emprego informal, 1,5%.

Um outro dado importante destacado em sua Carta pelo IPEA diz respeito à mais baixa taxa de participação do mercado de trabalho brasileiro. Essa taxa é a relação percentual as pessoas ocupadas ou procurando emprego e a população em idade de trabalhar


Rendimentos: ganhos reais para os trabalhadores

 

Uma conclusão a ser destacada na análise feita pelo IPEA está contida no seguinte trecho da sua Carta de Conjuntura:

“Por fim, os dados mostram que, como esperado, diante do bom dinamismo do mercado de trabalho, os rendimentos médios reais vêm mantendo uma trajetória de alta há vários trimestres. Segundo a PNAD Contínua, no trimestre móvel encerrado em abril, os rendimentos médios reais habitualmente e efetivamente recebidos chegaram a R$ 3.426,00 e a R$ 3.487,00, acelerando 3,2% e 3,4%, respectivamente, na comparação interanual.”

 

Uma conclusão que aponta para o papel do Estado

 

Os dados mostram um mercado de trabalho que vem se recuperando, com queda no desemprego e alta real nos salários. Mas desafios permanecem: o crescimento do emprego informal ainda preocupa, e a desigualdade social continua sendo um obstáculo à plena realização do potencial econômico do país. O papel do Estado, como mediador e indutor do desenvolvimento social, segue central nesse processo.

Quem quiser se aprofundar veja a Carta completa em: https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wp-content/uploads/2025/06/250626_cc_67_nota_22_indicadores_mensais_mercado_trabalho.pdf

01/07/2025

NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS - Nota 2 – Demandas, Gastos, Receitas e Dívida Públicos

24 de junho de 2025

 

Esta nota analisa como as finanças públicas — especialmente do Governo Federal — se comportam em 2025, à luz das demandas sociais, da arrecadação e da dívida pública.

Foram utilizados dados constantes do site do Tesouro: https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/estatisticas-fiscais-e-planejamento/resultado-do-tesouro-nacional-rtn-conteudos-relacionados

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Conceitos

 

A atividade do Estado, independentemente do modo de produção (Capitalismo ou Socialismo) e da forma de Governo (Monarquia, Parlamentar ou Absolutista; ou República, com as variações que se abordem), é algo crucial para a sociedade. Trata-se da forma de enfrentar, numa perspectiva da apropriação pública ou privada, as demandas dos diferentes segmentos da sociedade, seja quanto à prioridade das que devem ser atendidas, seja de como financiar sua oferta.

Para limitarmos a abordagem do tema nesta Nota, tomaremos o caso da nossa ainda frágil República e, considerando o seu caráter Federativo, focaremos a instância da União, isto é, o Governo Federal, ainda que tenhamos que levar em conta, necessariamente, as divisões de responsabilidade quanto à oferta de bens e serviços entre essa esfera nacional, a estadual e a municipal, bem como as transferências, determinadas pela Constituição, de recursos arrecadados pela esfera nacional para as esferas infranacionais.

As DEMANDAS públicas, aquelas a serem atendidas com oferta pública de bens e serviços, ainda que estes sejam adquiridos ao setor privado, pela esfera de governo que o ofertará, serão objeto de propostas por cidadãos especialistas, movimentos sociais, Partidos Políticos, todos se expressando por meios de comunicação privados (patrocinados pelo setor privado, como canais privados de TV e rádio e plataformas digitais, financiadas pela publicidade ou contribuições de usuários ) ou públicos (financiados pelo setor público das três esferas de governo).

Num segundo nível, essas demandas podem ser submetidas a discussões em Conferências Municipais, Estaduais e Nacional, de periodicidade variável, de modo a se poder estabelecer propostas para o planejamento anual (Orçamentos Anuais das esferas de governo) ou plurianuais (Plano Plurianual de Ações, de quatro anos, previsto na Constituição Federal) ou decenais (a exemplo do Plano Nacional de Educação).

Paralelamente às DEMANDAS, que levam aos GASTOS, a sociedade estabelece formas de financiamento, as RECEITAS e, entre estas, a principal das formas é aquela oriunda do Sistema Tributário Nacional, em que são determinados os tipos de TRIBUTOS, as esferas com competência para instituí-los e administrar sua arrecadação.

É claro que há outras formas de financiamento da oferta pública de bens e serviços como, por exemplo, os dividendos obtidos com as empresas de que participam as três esferas de Governo (exemplos: Petrobras, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Empresas Estaduais ou Municipais de Água e Saneamento etc.).  Lembre-se ainda fontes de menor expressão que as citadas, como multas resultantes de infrações, rendas por período longo decorrentes de direito de exploração, como os das rodovias “privatizadas” etc.

O resultado do confronto, nos orçamentos anuais, por exemplo, entre os GASTOS autorizados pelos Parlamentos de todas as esferas e as RECEITAS, previstas e acompanhadas pelo Ministério da Fazenda, na área federal, e Secretarias de Fazenda ou similares, nas esferas estaduais e municipais, será a ampliação ou a redução da DÍVIDA.

A ampliação da Dívida, movimento mais sujeito ao debate na sociedade, é o resultado da insuficiência dos recursos previstos nos orçamentos anuais, dos tipos citados nos parágrafos anteriores.

Aspecto importante a considerar no “confronto” entre “receitas e gastos” é a consideração do “resultado primário”: o excedente das receitas arrecadadas confrontadas com as despesas realizadas.

Registre-se que as referências, feitas até aqui, a GASTOS decorrentes de DEMANDAS de bens e serviços públicos feitas pela sociedade, não incluem aqueles relativos a DÍVIDAS acumuladas até o ano anterior ao objeto de observação – por exemplo: os gastos com amortizações, juros e outros encargos, realizados em 2025 e relacionados com o saldo da DÍVIDA em 31/12/2024, não são computados no conceito de SUPERAVIT OU DEFICIT PRIMÁRIOS.

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Comportamento das finanças da esfera federal ou nacional, na atual conjuntura brasileira

Em sua Carta de Conjuntura de 10 de junho deste ano, o IPEA abordou o “resultado primário do governo central em maio de 2025”. O Governo Central compreende: o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central. Essa denominação “Governo Central”, em oposição às outras Unidades da Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios), é importante para separar a responsabilidade do mais comumente chamado “Governo Federal”.

O resultado é apresentado pela ótica “acima da linha” (uma alusão à linha que separa a parte inferior da tabela que reúne todas as variáveis), ou seja, pela descrição das receitas e despesas primárias. Estas não incluem as despesas financeiras (amortização, juros e outros encargos com a dívida pública). Podemos dizer que a despesa primária consiste no atendimento das DEMANDAS de bens e serviços públicos pela sociedade. Se a RECEITA for insuficiente para cobrir essas demandas, ou seja, for inferior à DESPESA com aquelas demandas, ocorrerá um DÉFICIT PRIMÁRIO, passando a ser parcialmente financiada com a DÍVIDA.

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Comportamento das Receitas e Despesas na atual conjuntura


Cabe destacar, após essas considerações conceituais, indicadores do comportamento das variáveis principais das finanças federais. Tomemos o período de 12 meses completados em maio deste ano com o de 12 meses completados em maio d 2024.

1. Retirada a inflação do período, o crescimento da Receita Total da esfera federal foi de 6,8%. Pensando-se em impactos para a Federação, as transferências para Estados e Municípios cresceram 9%.

2. Olhando-se a despesa, objeto de tanta preocupação do mercado financeiro (que foca sobretudo aquela parte voltada para a redução da desigualdade alarmante do país), foi registrada uma redução de 6,6%.

3. O tão falado "resultado primário" (receitas menos despesas, excluídas as relacionadas com a dívida pública) foi de R$ 106,1 bilhões.

Cabe perguntar - deixando mais detalhes para a Nota seguinte desta abordagem das variáveis fiscais: onde está a razão para tamanho "terrorismo" em torno das finanças do país? Parece estar nas tentativas de ousar retirar a classe "da cobertura" do conforto de não pagamento mínimo de tributos, conforto desconhecido pelos que vivem no "andar de baixo"!

Síntese, de onde foram extraídos esses dados, está em https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2025/06/estimativa-preliminar-do-resultado-primario-do-governo-central-em-maio-de-2025/

30/06/2025

NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS - Nota 1 – PIB – Produto Interno Bruto

9 de junho de 2025

Conceitos

O título desta nota contém palavras ouvidas e lidas a cada instante, quando se trata de focar a produção de bens e serviços e distribuição dos resultados da produção entre os indivíduos pertencentes às classes sociais. Estes podem ser proprietárias dos meios de produzir (“capitalistas”) ou membros da força-de-trabalho, os “trabalhadores”, usando-se a divisão já secular das classes sociais. Nas últimas décadas, estes que ofertam a força de trabalho também começaram a representar formas coletivas de propriedade, como cooperativas, ou iniciativas autônomas de organização da produção, não assalariadas.

Exemplos desses temas encontram-se no noticiário sobre o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), que se refere ao resultado, em termos de quantidade e valor de todos os bens e serviços, a cada período. Este pode ser do último trimestre conhecido ou resultado acumulado desde o mesmo trimestre do último ano; ou do comportamento dessa variável ao longo dos anos.

É claro que isto é matéria complexa e cabe exemplificar sobre componentes do PIB, explícitos em seu conceito, simples ou não. Bens e serviços referem-se aos valores de toda a produção nacional no período, mas, num primeiro modo de aferição, apenas aos bens finais, pois não faria sentido, por exemplo, somar os valores da produção de grão de trigo, da farinha deste e dos pães, bolachas, bolos e quaisquer outros produtos derivados da farinha do trigo. Seria “dupla contagem”. Então, em um modo de aferição, se somam os valores dos bens finais – os consumidos pelos indivíduos e famílias, ou seja, os pães, bolachas etc. – além dos chamados bens de capital e até aumento de estoque se ocorrer; ou se somam os acréscimos de valor da produção em cada etapa da cadeia produtiva: o valor do trigo, mais o valor da farinha (subtraído o valor do trigo), mais o valor dos produtos derivados (subtraído o valor da farinha). Essa soma é referida como o valor agregado e é equivalente ao PIB. Um último componente do PIB é a diferença positiva entre as transações com os demais países. Ocorrem neste caso vendas de bens e serviços superiores às compras. Essa é a razão da importância atribuída à expansão dos negócios com outros países; mas é fundamental que as vendas não se limitem a produtos “primários”, ou seja, é preciso que resultem de processos industriais, pois significam mais geração de valor agregado a partir do domínio de tecnologias mais eficientes, pois resultantes de maior educação e mais pesquisas.

O aumento do PIB é a forma como se apresenta o aumento do bem-estar da sociedade, embora se torne indesejável se não for acompanhado de distribuição entre todos os indivíduos e, preferencialmente, de forma a reduzir constantemente a desigualdade existente entre as classes sociais considerados os níveis de renda.

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Comportamento do PIB na atual conjuntura

Com relação ao conceito tomado hoje (5/jun/2025), o PIB, reflete de forma sintética a evolução da economia. Esta palavra foca nas atividades humanas de produção de bens e serviços e corresponde, ao mesmo tempo, a distribuição da renda envolvida: pagamento de salários, de lucros, na forma de dividendos, outras rendas relacionadas com o patrimônio e os impostos.

As últimas informações de que dispomos hoje, produzidas pelo IBGE e IPEA, são as seguintes, destacando-se os indicadores mais significativos, relativos ao primeiro trimestre de 2025. Colocam-se aspas nos textos da Carta de Conjuntura do IPEA, datada de 5 de junho do corrente mês de junho, mas as observações e os grifos são nossos (ver publicação do IPEA em https://www.ipea.gov.br/.../desempenho-do-pib-primeiro.../):

a) “Segundo divulgação do IBGE, o PIB registrou crescimento de 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao trimestre imediatamente anterior, considerando a série dessazonalizada” (observação: “dessazonalizada” significa o tratamento estatístico dos dados mensais que retira os efeitos - como, por exemplo, o das estações do ano - sobre os movimentos comerciais das atividades do turismo).

b) “Mais do que a forte aceleração em relação ao avanço de apenas 0,1% nos últimos três meses do ano passado, esta foi a décima quinta variação positiva seguida na série com ajuste sazonal... Com isso, o crescimento acumulado em quatro trimestres acelerou pelo quarto período consecutivo, aumentando de 3,4% para 3,5%”...

“Embora o cenário macroeconômico brasileiro não tenha sofrido grandes alterações em relação ao final do ano passado, e siga negativamente influenciado pelo ciclo de aperto da política monetária e por incertezas globais, a resiliência do mercado de trabalho, juntamente com o impacto do salário-mínimo, e as transferências públicas de assistência e previdência, mantiveram a demanda doméstica aquecida. Além disso, a forte contribuição positiva da agropecuária, pelo lado da produção, ajuda a explicar a aceleração do ritmo de crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2025”.

Esses indicadores sintéticos confirmam a recuperação da economia brasileira que vem sendo observada nos últimos três anos. Recuperação animadora, ainda que lenta, ao mesmo tempo que preocupante, enquanto não acompanhada de medidas redistribuidoras de renda e patrimônio, em razão da baixa representação das classes de renda média e baixa no Congresso Nacional e nas Câmaras Estaduais e Municipais.