[Nota 5 da série NOTAS SOBRE CONJUNTURA E ESTRUTURA ECONÔMICAS BRASILEIRAS]
O desempenho dos investimentos
11/08/2025
Investimento: conceito e implicações
Esta nota trata de um tema central para o futuro do país: o investimento. Ele representa a capacidade da sociedade de ampliar seu bem-estar e sua produtividade nos anos que virão.
Não é por acaso que, em seus discursos, o Presidente da República — em seu terceiro mandato — costuma se irritar com o uso da palavra “gasto” para despesas públicas com Educação. A crítica não é apenas semântica: ela envolve como vemos e classificamos as ações do Estado.
Dentro dessa discussão, convém distinguir as despesas de custeio, de consumo, de capital e financeiras. Essas categorias afetam não só a contabilidade, mas também o planejamento e as prioridades das políticas públicas.
O fator tempo
Ao falar de investimento, é fundamental considerar o prazo dos benefícios. Não se trata apenas da duração da execução de um programa ou projeto, mas da permanência dos resultados após sua conclusão.
A Educação é exemplo claro: prédios e equipamentos escolares permanecem por anos, atendendo aquela quantidade específica de alunos; já o conhecimento transmitido pelos professores se incorpora à vida das pessoas e influencia toda a sociedade. Mesmo que, nas contas do PIB, a folha de pagamento dos professores seja classificada como “consumo público” (pela ótica de despesa corrente), o impacto é duradouro, como ocorre com a formação cidadã e a qualificação profissional.
Consumo e investimento no PIB
De forma resumida:
-
O Produto Interno Bruto (PIB) é composto por três grandes agregados: consumo, investimento e saldo das transações com o exterior. (Ver a Nota nº 1 desta série, neste blog).
-
O consumo inclui o uso final ou intermediário de bens e serviços por famílias e governos.
-
Exemplo familiar: compra de medicamentos (quando não fornecidos pelo SUS). Consumo final.
-
Exemplo governamental: pagamento de energia elétrica de escolas (intermediário, porque o final será o do serviço de Educação).
-
-
O investimento abrange despesas que ampliam a capacidade produtiva. Pode ser:
-
Privado — como a compra de máquinas para fabricar carteiras escolares;
-
Público — como a construção de escolas ou a compra dessas carteiras.
-
-
Essa distinção é relevante porque o investimento é o motor que sustenta crescimento econômico e melhora estrutural no longo prazo, proporcionando o aumento do bem-estar da sociedade. Como se sabe, no entanto, esse bem-estar exigirá, por parte do Estado, a implementação de políticas públicas de modo a não persistirem e, menos ainda, aumentarem as desigualdades entre segmentos da sociedade.
Desempenho recente segundo IPEA e IBGE
Em 7 de agosto de 2025, o IPEA divulgou, em sua Carta de Conjuntura, dados sobre investimentos até maio, com base no Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Este indicador soma investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil e outros ativos fixos (como estradas e pontes).
O resultado:
-
Em maio, a FBCF recuou 0,4% em relação a abril, já descontados efeitos sazonais.
-
A queda foi puxada pela redução nas importações de máquinas e equipamentos.
-
As demais componentes (máquinas nacionais, construção civil e outros ativos) não tiveram queda no mês.
Panorama histórico
O gráfico divulgado pelo IPEA mostra a evolução trimestral da FBCF (base 100 = média de 1995) entre maio de 2007 e maio de 2025:
-
O índice partiu de cerca de 130 e chegou ao pico de 200 no 1º semestre de 2013.
-
Caiu para aproximadamente 110 em meados de 2020, auge da pandemia.
-
Desde 2024, há retomada, ultrapassando 190 no início de 2025.
Variações e tendências
-
Mensal: quedas em março (-9,8%) e maio (-0,4%), levando a retração de -3,0% no trimestre encerrado em maio contra o trimestre anterior.
-
Anual: alta de 3,3% no trimestre encerrado em maio de 2025 frente ao mesmo período de 2024, com crescimento em todos os componentes da FBCF.
-
Acumulado em 12 meses: alta real de 6,9% no fim de 2024, com destaque para o setor de máquinas e equipamentos, que voltou a crescer após três anos de retração.
Conclusões
-
O nível atual de investimento nacional ainda é modesto diante das necessidades acumuladas, mas há sinais positivos de retomada. Se essa trajetória for mantida, pode-se iniciar um ciclo de expansão mais consistente.
-
O debate público, porém, muitas vezes é marcado por análises parciais ou excessivamente pessimistas — aquilo que alguns críticos chamam de “terrorismo econômico”. Esse tipo de abordagem tende a desconsiderar e até mesmo dificultar a formulação e execução de políticas voltadas para reduzir as profundas desigualdades de renda e riqueza do país.
Questão em aberto: conseguiremos sustentar o ritmo de recuperação dos investimentos ou voltaremos ao padrão de estagnação que marcou a última década?
Observação: foram consultadas os seguintes números da Carta de Conjuntura do IPEA:
a) Nº 67 - https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/category/indicadores-ipea/
b) Nº 68 - https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wp-content/uploads/2025/08/250807_cc_68_nota_8_fbcf.pdf
Foi obtida ajuda do ChatGPT na adaptação da forma dos textos para efeito de publicação neste blog e redes sociais.